Reflexões da idade, por Artur Roman

Completei hoje 61 anos. Muitas reflexões me visitam neste dia. Ter mais de 60 não é tão ruim como me parecia quando jovem. Especialmente porque me interessa agora acreditar que o homem é um ser incompleto que se aprimora com o passar do tempo.

Olho muitos de meus contemporâneos e vejo que somos a primeira geração que estudou mais que os pais e mais que os filhos; se envolveu com política mais que os pais e mais que os filhos; ganhou mais dinheiro que os pais e mais que os filhos.

Acho que nossos filhos acabaram desenvolvendo uma relação menos apaixonada com a riqueza e mais pragmática e saudável com o estudo e com a política. Será a alternância Apolo/Dionísio que tanto encantou Nietzsch em sua primeira obra?

Meu pai e seus irmãos, meus tios, morreram todos com pouco mais de 50 anos. Tinham sido escolhidos pelo bicho barbeiro e carregaram durante a vida a Doença de Chagas. A primeira velhinha bem próxima de minha família é minha mãe que, no próximo mês, estará com 90 anos. Estamos aprendendo com ela, entre tantas coisas, como envelhecer com dignidade, elegância e afetuosidade.

Minha mãe está com Alzheimer e tem dificuldade para reconhecer as pessoas. Por conta disso, ela desenvolveu uma estratégia muita bacana: ela cumprimenta a todos como se a todos conhecesse. E convida também a todos que a visitam a compartilhar de uma refeição. O que ficou na alma de minha mãe é o respeito por todos e o impulso de acolher. Não é legal isso?

Eu pensava que, com a velhice, iríamos nos tornando mais benevolentes e tolerantes. Vejo que não é bem assim. Creio que, na velhice, vamos tentando fechar a contabilidade dos sentimentos e das emoções: quem era intolerante desenvolve a compreensão; quem era indignado cultiva o silêncio; quem aceitava tudo se torna seletivo; quem era insensível se permite as lágrimas; quem tinha o “coração mole” se controla; quem tinha a “cabeça quente” se acalma; quem era quieto se agita; quem era colérico desenvolve a fleugma…Bem, pelo menos deveria ser assim!

A gente passa grande parte da vida para se aceitar como é. E depois tem que reconhecer que essa maneira de ser pode não ser a melhor. A questão é que, com o passar dos anos, aprimoramos nossas virtudes mas também apuramos nossos defeitos. Corremos o risco, sim, de ficar, a cada dia, mais chatos…

É preciso esforço anímico para que prevaleçam nossas qualidades enquanto burilamos nossas fraquezas comportamentais. Quando nossas capacidades cognitivas se fragilizarem, penso eu, expressaremos aquilo que fomos de melhor.
Acredito realmente que aprendemos a vida toda. Só mudamos de metodologia. Eu era tímido quando garoto e gostava de matemática. Agora escrevo e não faço conta.

Artur Roman
https://www.facebook.com/artur.roman.54

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